Nos últimos posts temos falado muito sobre um dos achados que mais temos aprofundado nesta pesquisa e que chamamos de Movimento Padrão. Aí vai uma tentativa de explicação de como conceituamos esse termo que a gente usa e como chegamos nele.
Geralmente, quando vamos pesquisar para um espetáculo buscamos por movimentos expressivos que consigam traduzir em espaço e tempo, idéias e reflexões sobre um determinado tema. Buscamos sempre por movimentos inéditos, interessantes, e incomuns que de alguma forma aludem ao tema, sem se tornar óbvio demais, e ao mesmo tempo seja torne possível estabelecer relações e provocações sobre a reflexão do tema. Tentamos fugir do óbvio, fugir do que já conhecemos, de vocabulários conhecidos, buscando novas formas de falar sobre o que queremos falar ,enfim, buscamos nos expressar de maneira original. Daí buscamos quebrar com o que reconhecemos como convencional, conhecido, clichês, estereotipações, rejeitando o que já foi explorado .
Quando passamos muito tempo improvisando, nos damos conta dos nossos limites e percebemos que somos repetitivos. Fazemos coisas que parecem se repetir sem que a gente tenha qualquer intenção. Temos vícios, hábitos, ou seja, maneiras de realizar o movimento no tempo e no espaço que parecem estabelecer um certo padrão. Quando percebemos isso buscamos quebrar com estes padrões de movimento na busca do novo, do autêntico e especial. Nesta pesquisa pensamos em olhar pra isso de outra maneira. O foco é exatamente esse padrão, reconhecer o padrão, pesquisá-lo, explorá-lo, desenvolvê-lo. Aceitá-lo. Entender como ele acontece, porquê, quando, qual sua origem, o que o influencia e o determina. Assim, a pesquisa buscou o que se repete quando nos movemos, tentando entender o que define o movimento de uma pessoa. Pensando que isso sim é que é especial!
No decorrer da pesquisa passamos por muitas perguntas como: como as características físicas individuais como (flexibilidade, força, alongamento) dão forma ao movimento? E as proporções físicas como tamanhos de tronco, perna, braços e peso? As habilidades desenvolvidas em trabalhos corporais que incluem treinamento e aprendizado de técnicas, como influenciam no movimento? E a personalidade da pessoa aparece no como ela se move? Se ela é ansiosa, explosiva, calma, lírica, introspectiva, extrovertida como isso se torna visível no movimento? Quando ela sente prazer cinestésico? Como cada pessoa traduz estímulos de várias naturezas, em movimento? Como idéias, imagens, sensações, emoções, jogos de movimento, situações espaciais, música e análise de movimento motivam o dançante? Como o ser humano percebe ? Como funciona os sentidos e a cognição? Todos os dias mudamos de opinião, de maneira de ver e sentir as coisas, então o que é que nos torna o que nós somos se estamos sempre diferentes?Como damos significado e valor ás coisas? E o gosto estético influencia nas escolhas? Como fazemos escolhas?O que pensamos enquanto dançamos? Pensamos? Como entendemos os comandos das improvisações? O que uma pessoa consegue traduzir o que sente/ pensa em movimento? O quanto consegue se envolver e se interessar pela proposta da pesquisa?
Daí chegamos a perguntas básicas: O que nos move? Quem somos nós? Como sinto e ajo no mundo? Por que danço?
A princípio o Movimento Padrão expressaria tudo isso de forma consciente /inconsciente. O Movimento Padrão é o nosso autorretrato dinâmico.
ótimo texto, acho que a pergunta do por que fazer "tal coisa" é muito repetitiva em toda especie de atividade dedicada sem lucro (não que não envolva) mas em relação a algo feito com amor, essa pergunta muitos ao longo do tempo conseguem respostas, muitas, e sempre surgem mais, isso apenas ajuda a entender melhor quem somos nós, individual e não da pra ser dita, já fiz um texto nesse sentido e penso que esse que treina é um animal, ele não pensa, só faz.
ResponderExcluirmuito bom o texto. acho que o movimento real é como um transe, esse sim é você que está ali cuspindo o que é, um animal agindo. atividades que abrem a mente causam isso, ajudam a despertar o real, seco, a se conhecer, isso é uma das coisas mais importantes pra quem leva algo a sério.
ResponderExcluirParticularmente, acredito que o movimento em si não possua definição/delimitação do que seja. Acredito que seja algo que não é algo, em si, onde a intangibilidade dele como um todo não é alcançada. É uma ideia de totalidade/unicidade que é expressa através de formas/canais mecânicos, audíveis, visíveis, climáticos etc, os quais esses últimos possuem subformas e subcanais (dança/corrida/escalada, canto/o recitar de uma poesia/um simples diálogo/música, pinturas/esculturas/ ou tudo que nossa visão consegue alcançar, alteração das estações do ano, etc.
ResponderExcluirExistem variáveis em meio ao caminho da expressão do movimento e seus respectivos canais e subcanais, contudo, independente de como e quando se dão as expressões, o porquê permanece inalterado, não o porquê trivial, mas o motivo genuíno que mantém em movimento todas as coisas.
Agradeço o fato de compartilharem sua experiência reflexiva conosco.
Grande abraço,
Thiago Lima
Seguem links, como prometido, do que escrevi a respeito do tema abordado, Luciana!
ResponderExcluirEspontaneidade: Movimento & Forma
http://caminhodoaprendiz.blogspot.com/2009/04/nao-se-trata-de-uma-maneira-de-se-mover.html
Sobre a inércia do Movimento Universal
http://caminhodoaprendiz.blogspot.com/2009/04/sintese-sobre-inercia-do-movimento_08.html
Grande abraço,
Thiago L.