Durante a pesquisa fomos criando noções e conceitos que permeiam agora nossa percepção, delineam nossas buscas, definem nosso foco e nossas escolhas. Depois de tanta discussão, leitura e reflexão possuímos um conhecimento do trabalho que vai além da intuição. Possuimos referências e uma estória construída com argumentos que nos é precioso e no momento constitui uma espécie de essência do trabalho. As análises que fazemos de tudo que produzimos nas experimentações enfrenta o crivo deste entendimento. O racional busca coerência com estes pensamentos construídos, o tempo todo. (Isso parece comum a todo processo criativo que já participei). É assim que sabemos o que é certo e errado no que estamos criando.
Uma discussão imensa podia se desencadear aqui sobre a relação entre forma e conteúdo. Mas vou me ater a reflexão que estou tendo a partir da dificuldade de achar a forma ideal pra dizer tudo que queremos dizer sem ferir essa dita essência. Estamos buscando uma estrutura no espetáculo que seja dinâmica, exatamente como entendemos que a identidade de uma pessoa é, ou como nossa percepção e como nosso mundo é. Isso talvez venha do entendimento e a concordância com a noção: "Forma é conteúdo". Falamos tanto de estar presentes no aqui e no agora que parece errado fixarmos uma estrutura de comandos ou mesmo coreográfica pro espetáculo. Afinal estaríamos traindo essa característica tão fundamental que encontramos na pesquisa. Não queremos a representação, pelo menos não como mote para dançarmos. A forma, ou seja o espetáculo pode ser interpretado como uma encenação, assim seria uma representação do que achamos na pesquisa , mas parece errado estarmos fazendo isso como motivação para dançar.
Todas as estruturas que experimentamos causaram um certo estranhamento na gente por esse motivo. Parece então que temos que fazer o espetáculo totalmente improvisado. Mas aí caimos na questão de que essa liberdade muitas vezes nos levou para a construção de um espetáculo que mais se parece com uma jam, uma improvisação sobre qualquer coisa, sobre o que der na telha. E não é isso que queremos.
Seguindo o raciocínio me veio então a percepção de que, na verdade, nossa reflexão/tema do espetáculo é tão básica, essêncial, profunda que poderia estar presente e é aplicável talvez em qualquer espetáculo. Pois é filosófica. Fala de uma essência do que é dançar, talvez por isso sirva pra outros espetáculos. Parece contraditório, pois se falamos que é aplicável a qualquer espetáculo, então porque não fechamos o nosso de "qualquer jeito" e pronto ele estaria "certo"? Não é simples assim. Quem dera. Temos um problema estético e de linguagem!
Até agora só consegui chegar a uma frágil conclusão: Talvez não precisamos de uma forma totalmente "dinâmica " para o espetáculo, pois temos todo um discurso com muitas descobertas que talvez não exprima ou aluda o espectador a uma viagem no tema que estamos propondo com esta forma. Podemos sim, então, fixar algumas coisas que tem haver com essas partes constituintes da pesquisa, sem excluir essa outra parte mais "livre ". Construir uma espécie de margem que delinea o todo e faz a gente ir pra um certo caminho, um recorte do tudo do mundo, um norte pra tocarmos nas questões que queremos falar neste espetáculo. Uma margem como a margem de um rio, um rio como o amazonas no caso.
Continuaremos essa reflexão....
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