23/04/2009

Fazer a bola

O que pensamos enquanto dançamos? Pensamos com o corpo? Como falar de dança?Escrever sobre dança? Como registrar a nossa experiência?

Temos tentado dançar sem objetivar, que na linguagem que nós desenvolvemos durante a pesquisa a partir de alguns conceitos da fenomenologia significa ter a noção de que quando falamos sobre movimento ou sobre uma experiência vivida perdemos muitas dimensões sensíveis tentando colocar em palavras o que na verdade elas não dão conta. Objetivar seria tornar algo objeto. Como este algo somos nós mesmos, pois a dança acontece no nosso corpo, não podemos objetivar, somos sujeitos. Falamos de uma experiência com o corpo da perspectiva de dentro do próprio corpo. Dançar sem objetivar seria deixar que o que acontece durante a dança não passe por uma objetivação da consciência que limite ou encerre idéias ou tente definir resumindo ou estreitando o que está sendo a experiência dançante. Ás vezes, não escolhemos as palavras certas e as palavras definem e fazem um contorno muito limitador , dando uma idéia muito diferente do que realmente aconteceu.

Parece contraditório, pois estamos fazendo uma pesquisa e precisamos falar e escrever para discutir sobre ela de maneira mais objetiva possível para podermos nos comunicar. Mas, essa objetividade já vimos que não nos serve. Ela não possui verossimelhança com o ato de dançar.Pra isso desenvolvemos essa noção que é importantíssima e cara pra nós pois reflete nossos achados e nossa concepção sobre a natureza da experiência do estado de dança que buscamos e temos interesse. Ter em mente que precisamos sempre entender além da palavra, abrir mais o entendimento. Chamamos isso de fazer a bola. A bola é uma esfera, forma geométrica mais complexa que conhecemos. Fazer a bola é uma expressão criada por nós que significa ampliar a visão, perceber que tem muito mais do que conseguimos falar ou escrever naquele momento, relacionar com o mundo, com a natureza das diversas dimensões que uma experiência tem.


Pra isso desenvolvemos uma maneira peculiar de escrever sobre as improvisações nos aproximando do que podemos chamar de textos poéticos. A poesia pessoal deu espaço e vazão a nossa percepção do que parece ser a experiencia vivida da dança. Os textos assim tem muitas vezes uma linguagem poética.

Talvez pra este blog , teremos que escrever um glossário de palavras que utilizamos na pesquisa que tem muita importancia para o conteúdo e o entendimento do que queremos dizer. Palavras que adquiriram um sentido muito específico dentro da pesquisa. Vamos seguindo e encontrando formas de nos comunicar e registrar aqui o que fazemos nos ensaios da companhia...

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