Missão do Corpo - Carlos Drummond de Andrade
Claro
que o corpo não é feito só para sofrer,
mas
para sofrer e gozar.
Na
inocência do sofrimento
como
na inocência do gozo,
o
corpo se realiza, vulnerável
e
solene.
Salve,
meu corpo, minha estrutura de viver
e
de cumprir os ritos do existir!
Amo
tuas imperfeições e maravilhas,
amo-as
com gratidão, pena e raiva intercadentes.
Em
ti me sinto dividido, campo de batalha
sem
vitória para nenhum lado
e
sofro e sou feliz
na
medida do que acaso me ofereças.
Será
mesmo acaso,
será
lei divina ou dragonária
que
me parte e reparte em pedacinhos?
Meu
corpo, minha dor,
Meu
prazer e transcendência,
És afinal meu ser inteiro e único.
Referências:
ANDRADE, Carlos
Drummond de. Farwell. 3.ed. São
Paulo: Record, 1997, p.71.
Fotos: Bailarino Leandro Menezes em "Autorretrato Dinâmico" - Foto Débora Amorim
Amei!
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