Leandro Menezes e Flavia Faria fizeram um curso de contato-improvisação com Giovane Aguiar durante uma semana. Segue seus relatos/reflexões sobre a experiência:
Contato...
Durante uma semana fui desafiado... Me desafiei ao limite, desafiei a minha calma, desafiei minha pressa, desafiei a forma, desafiei o peso, o meu peso, o peso do outro, desafiei a gravidade, mais uma vez eu digo, eu me desafiei. Acho que todos deveriam vivenciar o contato improvisação. Independente da técnica, das grandes saídas do chão, o que mais valeu e enriqueceu essa experiência, foi o toque no corpo do outro. O corpo do outro como extensão do meu corpo e do chão. Meu corpo dilatou, meu corpo cresceu, o chão me apaixonou. O estar no chão durante 1 semana tornou-se uma necessidade de buscar uma liberdade. E por que não o ar? O ar, a velha e boa ausência de solo. É perceptível que o sair da concretude do chão me desconforta, me desequilibra, e mais uma vez, me desafia, aliás, desafia não, me “desafina”. Nesse momento não sonho, não devaneio, não entro em algum estado de criação, eu simplesmente me desorganizo, me desalinho, me desespero. O ar, a ausência de chão, de domínio, me desestrutura. Quem sempre foi base, não sabe ser ar. E quem não sabe ser ar, não aproveita para se arriscar, não aproveita para se lançar, não aproveita para confiar. Do meu corpo eu sei cuidar, será que do meu corpo o outro sabe lidar?Após uma semana de trabalho, reflito, reconheço muitas lacunas, limites borrados, mas me surpreendo ao querer ir mais, me desafiar mais.
Leandro Menezes
Contato, improvisação e transformação
Fiz contato com o passado. Voltei a algum lugar da minha infância e lembrei do jardim da casa da minha bisavó Maria Luíza. Meu flash de memória não foi sobre nenhum acontecimento ou situação específicos. Foi simplesmente uma sutil sensação, um sentimento gostoso do fato de estar naquele jardim tão florido, cheio de roseiras, e sentir um conforto indescritível. Não me lembro de ter tido acesso a essa lembrança em nenhum outro momento da minha vida. Nessa semana do workshop estudamos a pele, os músculos e os ossos, e para mim ficou claro que entre todas essas camadas existe muito mais memória e informação do que se pode imaginar. Ter acesso a isso, foi uma experiência única e enriquecedora.
Contactei também o presente, no sentido de reconhecer na minha forma de dançar, de rolar no chão e fazer os exercícios de peso, alguns aspectos próprios que encontro no meu dia-a-dia. Isso ocorre na forma de enxergar o mundo e conseqüentemente de me relacionar com as pessoas e comigo mesma. Me observei compreendendo minhas reações, e selecionando o que eu queria manter, e o que eu já não queria mais. Continuo nesse estado até agora e penso ter aberto um espaço para que ele permaneça.
Enfim posso dizer que acabei contactando o futuro. Tenho certeza de que essa soma de sensações e percepções tornará mais completa a minha busca pela consciência corporal e autoconhecimento. Influenciará também as minhas escolhas, e a forma de encarar o que a vida apresentar. Em uma semana muita coisa se transformou, e sobre todos os sentimentos se destaca a gratidão. Sinto-me grata às oportunidades, aos encontros, e sobretudo, de estar consciente de pelo menos parte dessa transformação.
Flavia Faria
Foto: Luciana Lara
legal!
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