23/11/2012

Continuação dos textos/relatos sobre o processo de audição: Texto de Rafael Villa




Há tempos não escrevia. Há tempos não dançava.

Aquela estranheza de ficar sem escrever e quando voltar a fazê-lo perceber que minha letra virou um garrancho.

Aquela estranheza de ficar sem dançar e quando voltar a fazê-lo perceber que meu movimento virou um garrancho.

Preciso apontar esse lápis, limpar o caderno, esticar meu corpo e me acostumar com a dor. Assim como minha mão já dói agora.

Como posso estar tão dentro, tão próximo do Cidade em Plano e tão distante destas pessoas? Me sentindo, não excluído, mas um estranho. Isso reflete no meu “fazer dança”, no meu “eu criador”.

Tem um papo hippie artístico que não me agrada, a arte fica parecendo exclusiva de gente diferente,  que só vive disso,  muito especial.

Brasília tem me causado um ranço. Cada vez mais sinto menos vontade de estar aqui. As relações pessoais são muito esquisitas e cansei disso. Mas tem coisas que me prendem. Me questiono por que ficar. É necessário me encaixar? Cadê minhas amigas? Karlota? Marcela? Leandro parece uma ponte ao passado, uma ponte reformada. Por que o reconheço mas ele está mais distante. Mudaram a ponte de lugar ou eu que andei demais?

O que tem dentro de mim é estranho demais. Esquizofrenia pura. Ora por querer colocar meu corpo em risco (sempre gostei) ora por querer para com tudo, não pela dança mas pra não me irritar com o que não concordo.

Passei o dia mal humorado. Minhas irmãs sofreram, meu cachorro sofreu, meus clientes sofreram. Mas eu também sofri. Sofri por que meu mal humor me deixa imobilizado. Quase não consegui fazer nada o dia todo.

Agora à noite fiquei em silêncio. Minha cunhada fez uma piada. Soltei um sorriso de canto de boca só pra dizer que tinha entendido. Fui pro quarto, estava exausto. Meu cachorro não queria dormir. Tive vontade de sacudir o bichinho  e lembrei da minha prima que diz ter vontade de fazer o mesmo com a filha de um ano, minha culpa diminuiu quase que por completo. Apaguei as luzes e ela se acalmou. Ela dormiu mas eu não.

Acendo a luz, começo a escrever. Pronto! Era isso!

Escrever pra poder dormir. Dançar pra poder acordar.

Rafael Villa

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